Conhecido pelos desfiles teatrais e as roupas ricas em metragem de tecido, volumes e detalhes, Rober Dognani se pergunta de onde vem tanto drama. A resposta tem a ver com a sua família. Vem dos tempos em que ele se reunia com a mãe para olhar o álbum de fotografias dos antepassados. Dalí, surgiam histórias que ninguém sabia se eram fato ou ficção. De todo modo, encantavam. Tem o caso da nonna cega, deixada em um porto na Espanha, quando o avô italiano, sem dinheiro, abandonou a Europa para tentar a vida no Brasil em 1909. Da travessia, tem o relato da tia-avó, que morreu ainda criança e teve o corpo arremessado ao mar.
Na cabeça de um Rober pequeno, tudo era fantasia: “Imaginava a nonna cega vagando no porto com um vestido preto enorme. A imagem da irmã do meu avô, morta quando menina, era aterrorizante”. Junte a isso a bíblia que ele recebeu do tio, aos 8 anos, ilustrada com pinturas de Caravaggio e Rubens. “Tinha um São Miguel Arcanjo pisando em um demônio e toda a dramaticidade da religião.”
Tais lembranças são transformadas em looks vitorianos, hispânicos e vampirescos que reúnem diferentes épocas, do renascimento ao barroco aos anos 1980. Assinaturas do estilista estão presentes no trabalho com látex (agora com aplicação de renda e pedraria), nas estampas em vestidos semitransparentes, nas capas, nas jaquetas de ombros quadrados, na silhueta exagerada e na colaboração com Felipe Fanaia – aqui em calças jeans oversized.
Nesta temporada, Rober faz uma viagem de volta ao velho continente, com rufos nos pescoços, além de leques e babados. Ao som do flamenco, atravessam a passarela vestidos com armação de crinolina, looks de veludos e acessórios de cabeça de metal forrados por tule que reproduzem a peineta espanhola (eles são de Davi Ramos, que assina o styling da apresentação ao lado de Flavia Pommianosky). Em busca de onde vem o drama, o que importa é que ele segue vivo no estilista, em seu encantamento por roupas e o que é belo.
